Pré-COP das Quebradeiras de Coco e Povos Tradicionais chega à Câmara com denúncia de desmatamento financiado pelo agronegócio global

De 8 a 10 de julho, mulheres quebradeiras de coco babaçu, indígenas, quilombolas, ribeirinhos e representantes dos povos e comunidades tradicionais se reuniram em Brasília-DF para a realização da Pré-COP das Quebradeiras de Coco Babaçu e dos Povos e Comunidades Tradicionais. A mobilização finalizou com uma audiência pública no Congresso Nacional, onde o movimento levou ao centro do poder suas propostas para a COP30 e denúncias sobre os impactos do agronegócio e do financiamento internacional sobre seus territórios.
Organizada pelo Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) e pela Rede de Povos e Comunidades Tradicionais (Rede PCTs), com apoio da ActionAid, a Pré-COP teve como tema “Território é vida, é clima, é resistência” e defendeu o protagonismo dos povos que mantêm as florestas em pé nas decisões sobre justiça climática.
Como parte da campanha global Fund Our Future, a ActionAid apresentou o relatório “Desmatamento Financiado: Quebradeiras de Coco na Mira do Agronegócio Global”, que expõe como bancos internacionais financiam empresas responsáveis por desmatamento em áreas tradicionais, especialmente no estado do Maranhão.
“O agronegócio promove o desmatamento desordenado e impacta a natureza, as águas e nossos corpos. Adoecemos ao consumir água poluída. Nossa agricultura é atingida pela pulverização aérea de agrotóxicos. A monocultura chega com força impondo soja, milho e algodão, sem respeito ao nosso modo de vida”, denunciou Maria Alaídes Alves de Sousa, coordenadora-geral do MIQCB.

Durante a mesa “Financiamento climático: Para quem? Como? Para quê? ”, realizada no dia 9/7, o coordenador de Políticas e Programas da ActionAid Brasil, Junior Aleixo, detalhou como o capital global tem impulsionado o avanço do agronegócio sobre as áreas coletivas dos povos tradicionais. Segundo o relatório, entre 2016 e 2024, mais de US$ 37 milhões foram repassados à Cargill, diretamente relacionada à devastação no Cerrado maranhense.
Aleixo alertou para a financeirização da terra, prática que transforma o território em ativo especulativo, sem vínculo com a biodiversidade, os modos de vida ou as culturas locais. “Essa lógica enfraquece a posse coletiva, concentra riqueza, eleva o preço da terra e amplia a estrangeirização dos territórios”, explicou.
Em contraponto, o especialista destacou experiências exitosas, como a COOPALJ, cooperativa de quebradeiras de coco do município de Lago do Junco (MA), que rompe com os atravessadores e promove autonomia econômica, agro industrialização e certificação de produtos da sociobiodiversidade.
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, reafirmaram o compromisso com os povos tradicionais, denunciaram o negacionismo climático e defenderam o fortalecimento dos territórios e da reforma agrária.
A ação reforça o papel do Brasil na pauta climática internacional às vésperas da realização da COP30 em Belém, a primeira em território amazônico. Representando o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Wilson Negrão apresentou os avanços do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), iniciativa liderada pelo Brasil que busca criar um fundo global de US$ 125 bilhões para preservar florestas tropicais com justiça social e protagonismo dos povos que as habitam.
Voz que ecoa no Parlamento
A audiência pública na Câmara dos Deputados, realizada no dia 10 de julho, reuniu diversas lideranças e representantes do governo federal.
“É hora de garantir que o financiamento climático chegue a quem realmente protege a floresta. A luta das quebradeiras de coco é ancestral, mas também é profundamente atual”, resumiu Maria Alaídes.
A Pré-COP também lançou uma Carta Política com reivindicações e propostas para a COP30 e reforçou que não haverá justiça climática sem justiça territorial, sem reconhecimento pleno dos direitos dos povos e comunidades tradicionais, e sem enfrentar os verdadeiros responsáveis pelo colapso ambiental: os setores econômicos que lucram com a destruição.
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